Olá pessoal, hoje eu trago apontamentos biofísicos gerais do sistema respiratório:
Questões: sistema respiratório
1) Descreva brevemente os dois mecanismos envolvidos na mecânica da ventilação pulmonar.
2) Calcule o volume da ventilação alveolar por minuto de Antônio, levando em consideração que, aos 72 anos, ele apresenta um volume corrente de 460mL, espaço morto de 180mL e uma frequência
ventilatória de 10 ciclos/min.
3) Compare os fatores que afetam a velocidade de difusão dos gases respiratórios na água, nos tecidos e na membrana respiratória.
4) Comparando as diferenças de pressão de O₂ e CO₂ presentes nos capilares alveolares e no ar alveolar, descreva o sentido de difusão desses gases.
5) Descreve o efeito BOHR e HALDANE no transporte de O₂ e CO₂.
A respiração tem como objetivos o fornecimento de oxigênio aos tecidos e a remoção do dióxido de carbono. Ela é dividida em quatro eventos funcionais:
- Ventilação pulmonar: renovação cíclica do gás alveolar pelo ar atmosférico;
- Difusão de O₂ e CO₂ entre os alvéolos e o sangue;
- Transporte no sangue e nos líquidos corporais: O₂ (dos pulmões para as células); CO₂ (das células para os pulmões);
- Regulação da ventilação.
A mecânica da ventilação pulmonar ocorre por:
- Movimentos do diafragma para cima e para baixo;
- Elevação e abaixamento das costelas pelos músculos intercostais.
Pressões que causam a ventilação pulmonar:
O pulmão é uma estrutura elástica que colapsa como um balão e expele todo o ar pela traqueia toda vez que não há força para mantê-lo inflado. O pulmão flutua na cavidade torácica, cercado por uma fina camada de líquido pleural que lubrifica o movimento dos pulmões dentro da cavidade.
- Pressão pleural: é a pressão do líquido no estreito espaço entre a pleura visceral e a pleura parietal, há uma leve sucção entre os folhetos, o que significa uma discreta pressão negativa. Durante a inspiração normal, a expansão da caixa torácica traciona os pulmões para fora com uma força maior e cria mais pressão negativa;
- Pressão alveolar: é a pressão do ar dentro dos alvéolos pulmonares. Devido a um influxo de ar para os alvéolos, a pressão em seu interior deve cair para um valor ligeiramente abaixo da pressão atmosférica, durante a inspiração normal. A pressão alveolar diminui cerca de -1 centímetro de água (cmH₂O);
- Pressão transpulmonar: é a diferença entre a pressão alveolar e a pressão pleural.
É o grau de expansão que os pulmões experimentam a cada unidade de aumento da pressão transpulmonar. Pessoa de porte mediano possui complâcencia pulmonar de 200mL/cmH₂O.
O diagrama de complacência pulmonar relaciona as alterações do volume pulmonar às
mudanças da pressão transpulmonar. Cada diagrama é determinado pelas forças elásticas dos pulmões: força elástica do tecido pulmonar propriamente dito e forças elásticas causadas pela tensão superficial do líquido que reveste as paredes internas dos alvéolos.
As forças elásticas do tecido pulmonar são determinadas principalmente pelas fibras elastina e colágeno.
Princípio da tensão superficial:
A superfície da água está tentando se contrair. Isto resulta numa tentativa de forçar o ar para fora do alvéolo através do brônquio e, ao fazer isso, induz o alvéolo a colapsar. O efeito geral é causar uma força contrátil elástica de todo o pulmão, que é chamada de força elástica de tensão superficial.
O surfactante e seus efeitos na tensão superficial:
É um agente ativo de superfície na água, o que significa que ele reduz bastante a tensão superficial da água. O surfactante é uma mistura complexa de vários fosfolipídios, proteínas e íons. Estes compostos são responsáveis pela redução da tensão superficial.
Pressão em alvéolos ocluídos causada pela tensão superficial:
Se as vias aéreas que levam aos alvéolos pulmonares estiverem bloqueadas, a tensão superficial no alvéolo tende a colapsá-lo. Isto cria um tensão positiva alveolar na tentativa de empurrar o ar para fora, assim a pressão gerada pode ser calculada da seguinte forma:
Efeito da caixa torácica na expansibilidade pulmonar:
O trabalho de inspiração pode ser dividido em três frações:
- Aquela necessária para expandir os pulmões contra forças elásticas do pulmão e do tórax, chamada de trabalho de complacência ou trabalho elástico;
- Aquela necessária para sobrepujar a viscosidade pulmonar e das estruturas da parede torácica, chamada trabalho de resistência tecidual;
- Aquela necessária para sobrepujar a resistência aérea ao movimento de ar para dentro dos pulmões chamada de trabalho de resistência das vias aéreas.
Quatro volumes pulmonares quando somados são iguais ao volume máximo que os pulmões podem expandir.
- O volume corrente é o volume de ar inspirado ou expirado em cada respiração normal; a quantidade é de cerca de 500mL no homem adulto;
- O volume de reserva inspiratória é o volume extra de ar que pode ser inspirado acima do volume corrente normal quando uma pessoa inspira com força total; geralmente cerca de 3.000mL;
- O volume de reserva expiratório é o máximo volume extra de ar que pode ser expirado numa expiração forçada após o final de uma expiração corrente normal; normalmente cerca de 1.100mL;
- O volume residual é o volume de ar que fica nos pulmões após a expiração mais forçada; este volume é de cerca de 1.200mL.
Capacidades pulmonares:
- A capacidade inspiratória é igual ao volume corrente mais o volume de reserva inspiratório. É a quantidade de ar que a uma pessoa pode respirar, começando em nível normal e distendendo o pulmão a uma quantidade máxima (3.500mL);
- A capacidade residual funcional é igual ao volume de reserva expiratória mais o volume residual é quantidade de ar que permanece nos pulmões no final de uma expiração nos pulmões no final de uma expiração normal; (2.300mL);
- A capacidade vital é igual ao volume de reserva inspiratória mais o volume corrente mais o volume de reserva expiratória. É a quantidade máxima de ar que uma pessoa pode expelir dos pulmões após primeiramente enchê-los à sua extensão máxima (4.600mL);
- A capacidade pulmonar total é o volume máximo que os pulmões podem ser expandidos com o maior esforço (5.800mL). É igual a capacidade vital mais o volume residual.
A ventilação pulmonar pode renovar continuamente o ar nas áreas de trocas gasosas dos pulmões, onde o ar está em proximidade com a circulação sanguínea pulmonar. Essas áreas incluem: alvéolos, ductos alveolares, sacos alveolares e bronquíolos respiratórios. A velocidade com que o ar novo alcança essas áreas é chamada de ventilação alveolar.
Espaço morto e seu efeito na ventilação alveolar:
Parte do ar que uma pessoa respira nunca alcança as áreas de trocas gasosas porque simplesmente preenche as vias respiratórias onde não ocorrem trocas como o nariz, a faringe e a traqueia. Este ar é chamado de ar do espaço morto porque ele não é útil para as trocas gasosas.
Na expiração, o ar do espaço morto é expirado primeiramente, antes de qualquer ar dos alvéolos
alcançar a atmosfera. É desvantajoso para a remoção dos gases expiratórios dos pulmões. Em um homem jovem é de 150mL.
Intensidade da ventilação alveolar:
A ventilação alveolar por minuto é o volume total do ar fresco que penetra nos alvéolos a cada minuto. É a frequência respiratória multiplicada pela quantidade de ar fresco que entra nos alvéolos a cada inspiração.
VA = f x (VT – VD)
Exemplo:
Volume corrente = 500mL
Espaço morto = 150mL
Frequência ventilatória = 12 ciclos/min
VA = f x (VT – VD)
VA = 12 x (500-150) = 4200mL/min
Difusão dos gases:
Os gases com importância na fisiologia respiratória são moléculas simples, capazes de se moverem livremente umas por entre as outras. Essa movimentação recebe o nome de difusão.
A fonte de energia é a própria energia cinética das moléculas. A direção da difusão do gás ocorre da área de maior concentração para a área de menor concentração.
A pressão total de um gás é diretamente proporcional à concentração desse gás.
Considerando uma mistura de gases: 760mmHg, 79% nitrogênio e 21% oxigênio.
- 79% de nitrogênio, 760mmHg (600mmHg);
- 21% de oxigênio, 760mmHg (160mmHg).
Pressões de gases dissolvidos em líquidos:
Determinada pela concentração e o coeficiente de solubilidade do gás.
Pressão = [gás dissolvido]/coeficiente de solubilidade
Coeficientes de solubilidade:
O₂ = 0,024
CO₂ = 0,57
CO = 0,018
N₂ = 0,012
He = 0,008
Difusão de gases entre a fase gasosa e o sangue:
Obedece a diferença de pressões do gás: difusão do sentido de maior concentração para o de menor concentração do gás.
Ciclo respiratório: inspiração e expiração
Pressão de vapor da água:
- A 37°C corresponde a 47mmHg;
- A 0°C corresponde a 5mmHg;
- A 100°C corresponde a 760mmHg.
- Os gases respiratórios têm grande solubilidade em lipídios;
- Solúveis em membranas celulares;
- Velocidade de difusão nos tecidos = água.
Composição do ar alveolar:
A composição do ar atmosférico é diferente do ar alveolar:
- Ar alveolar é parcialmente substituído a cada ciclo;
- Oxigênio é constantemente absorvido;
- CO₂ é constantemente difundido do sangue para os alvéolos;
- O ar atmosférico é umidificado.
Capacidade residual funcional dos pulmões é de 2.300mL. Apenas 350mL de ar fresco são renovados, são necessário muitos ciclos para substituição do ar.
Pressão de O₂ e CO₂ nos alvéolos:
Concentração e pressão dos gases:
- O₂: velocidade de absorção pelo sangue; velocidade que o novo O₂ entra nos pulmões pela ventilação;
- CO₂: velocidade de excreção de CO₂; diretamente proporcional à ventilação.
Ar expirado:
Parcela de ar do espaço morto + parcela de ar alveolar.
Unidade respiratória:
Composta por bronquíolo respiratório, dutos alveolares, átrios e alvéolos.
- Paredes dos alvéolos extremamente finas e com extensas redes de capilares;
- Lençol de sangue em movimento;
- Gases alveolares ficam muito próximos do sangue;
- Trocas gasosas ocorrem através de todas as membranas das porções terminais dos pulmões;
- Membrana respiratória ou membrana pulmonar.
Membrana respiratória:
- A espessura da membrana é de 0,2 a 0,6µm;
- A área total da membrana de um adulto é de 70m²;
- A quantidade total de sangue nos capilares pulmonares é de 60-140mL;
- O diâmetro médio dos capilares é de 5µm;
- Hemácias passam apertadas.
Velocidade de difusão gasosa na membrana respiratória:
Depende de:
- Espessura da membrana respiratória;
- Área da membrana respiratória;
- Coeficiente de difusão do gás na membrana;
- Diferença de pressões entre os dois lados da membrana.
Capacidade de difusão na membrana respiratória:
Volume de gás que se difunde através da membrana a cada minuto, para uma diferença de pressões de 1mmHg.
Capacidade de difusão para O₂ e CO₂:
- O₂: Homem jovem – 21mL/min/mmHg. Exercício - 65mL/min/mmHg;
- CO₂: 20X maior que O₂. Repouso400-450mL/min/mmHg.
Aspectos biofísicos do transporte de gases:
Efeito Bohr: quando Hb se liga ao O₂, ela libera a próton (H+) e quando desliga o O₂ ela incorpora próton (H+).
Efeito Haldane: quando a Hb liga-se ao O₂, sua afinidade pelo CO₂ diminui e quando a Hb desliga-se do O₂ sua afinidade pelo CO₂ aumenta. Assim, em meio de maior pressão de CO₂, a afinidade de O2 diminui, em meio de menor pressão de CO₂, a afinidade pelo O₂ aumenta.
Esses efeitos são coadjuvantes no transporte de H+ e CO₂:
- Nos pulmões, o mecanismo da combinação com O₂ torna a Hb mais ácida e tem duas consequências: Hb mais ácida libera o CO₂ ligado a ela; Hb mais ácida libera muito H+ para o plasma sanguíneo -> se ligam ao HCO₃- -> H₂CO₃ -> H₂O + CO₂ -> que é liberado do sangue;
- Nos tecidos, a Hb libera o O₂ e se combina com maior afinidade ao H+ e CO₂.
Nenhum comentário:
Postar um comentário