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segunda-feira, 26 de junho de 2023

Embriologia humana III: dismorfogênese e teratologia

 Olá pessoal, hoje eu trago uma terceira e última parte em tópicos importantes de embriologia humana para complementar o que já foi dito:

Lábio leporino

DISMORFOGÊNESE E TERATOLOGIA

 Malformações ou defeitos congênitos: anomalia observada ao nascimento, que pode variar desde a ausência total de uma estrutura ou alteração em sua configuração normal (deformação), representa 4% a 6% dos nascimentos. A vasta maioria não causa complicação funcional ou anatômica.

 Dismorfogênese: processo que leva às malformações ou deformações.

 Teratologia: estudo das anomalias congênitas causadas por fatores/agentes ambientais. Três príncípios em teratologia: dose crítica, período crítico e constituição genética.

 A dose crítica é particular de cada medicamento, composto químico, metal ou substância que afeta o desenvolvimento, deve ser analisada à luz do período crítico, tempo em que é órgão/sistema é suscetível à ação de um agente ambiental. Isso é modulado pela constituição genética, que controla a resposta aos fatores e suas doses.

Causas das malformações congênitas

 Causas genéticas: anomalias cromossômicas: monossomias, trissomias, inversões, translocações etc.; mutações gênicas: acondroplasia (dominante), microcefalia (recessiva), holoprosencefalia (gene HPE3). 



Causas ambientais: teratógenos (termo está caindo em desuso): agentes capazes de induzir malformações no embrião/feto. Perturba vias de sinalização, agentes morfogenéticos, processos indutivos. Podem ser:
  • Agentes químicos - drogas;
  • Agentes físicos - radiação ionizante;
  • Agentes biológicos - organismos patogênicos que passam pela barreira placentária e causam malformações perturbando o desenvolvimento de sistemas/órgãos.
Período crítico: período de diferenciação rápida do órgão/sistema no qual ocorre o máximo de diferenciação celular, divisões celulares e morfogênese, sendo o órgão/sistema mais suscetível ao agente teratogênico. O período crítico de um órgão/sistema é diferente do de outro.
 
  • 1. ª  a 2 . ª semana (período pré-embrionário): baixos riscos de anomalia; clivagem ‘’tudo ou nada’’; qualquer agente ao qual o concepto estiver exposto leva à morte, não há viabilidade;
  • 3. ª  a 8. ª semana (período embrionário): há esboço e formação dos órgãos, havendo maior sensibilidade;  
  • A partir da 9° semana (período fetal): leva mais a perturbação funcional do feto, exemplo: retardo mental. Por exemplo, o sistema nervoso está suscetível às malformações congênitas da 3° semana até a 16°, entretanto pode sofrer perturbações funcionais em toda gestação.



Teratógenos: 

Agentes químicos:
  • Álcool pode levar à Síndrome do Alcoolismo Fetal;
  • Álcool e drogas como cocaína e maconha agem no SNC levando à microcefalia, retardo do crescimento do feto e retardo mental;
  • Andrógenos podem levar à masculinização do feto feminino;
  • Carbonato de lítio é encontrado em alguns medicamentos psiquiátricos e aumenta o risco de malformações cardíacas;
  • Tetraciclina é um antibiótico que prejudica a formação do esmalte, da dentina e dos ossos. É uma substância fluorescente que se deposita nos ossos e na dentina (dentes cinzas);
  • Talidomida afeta o desenvolvimento dos membros: ausência total de membros (amelia),  aproximação/encurtamento dos membros (focomelia) ou ausência de parte de um membro (meromelia);
  • Ácido retinoico (vitamina A) é um potente agente morfogenético. Vários sistemas dependem da concentração do gradiente de ácido retinoico para se formarem. Perturbar essa sinalização leva à anomalias craniofaciais e esqueléticas;
Agentes físicos:
  • Radiações ionizantes tem poder de penetração muito grande, danificando o DNA de vários tecidos e levando a alterações. Microcefalia, retardo mental, anomalias do esqueleto, crescimento retardado e catarata (a que mais ocorre, podendo ocorrer por agentes químicos, radiação ionizante e patógenos).
Agentes biológicos: ultrapassam a barreira placentária, vão ao sangue da mãe e colonizam os tecidos fetais, tendo tropismo por determinados tecidos fetais, onde comprometem o desenvolvimento;
  • Toxoplasmose (Toxoplasma gondii);
  • Citomegalovírus - afeta o SNC do feto;
  • Parvovirose;
  • Zika Vírus;
  • Varicela;
  • Herpes simples - pode causar catarata, microcefalia, retardo mental;
  • Rubéola - idem herpes simples;
  • HIV: mães sem tratamento - 25~40% dos bebês nascem com HIV; mães tratadas ~1% dos bebês nascem HIV-positivos. A contaminação ocorre sobretudo no parto e amamentação.
Malformações na neurulação: 

  • Anencefalia: não fecha o neuróporo anterior, não diferenciando ossos do crânio e a pele na região do dermátomo. Não forma telencéfalo e hemisférios cerebrais, a calota cerebral fica exposta - se não fecha o encéfalo, as estruturas da face são afetadas. Ácido fólico é importante no fechamento do tubo neural. Podem não ter tronco, bulbo e ponte, não havendo capacidade de respirar. O termo mais correto é meroencefalia, pois há parte do encéfalo;
  • Meningocele: nesse processo de fechamento, parte do tecido nervoso, em especial as meninges, formam massa tumoral em função da ausência dos ossos cranianos. Não há tecido nervoso no tumor;
  • Meningoencefalocele: massa tumoral com tecido do encéfalo em seu interior - correção dificultada;
  • Craniorraquisquise: abertura na região do encéfalo e da medula;
  • Espinha bífida (Spina bifida): defeito de fechamento na medula propriamente dita; defeitos no fechamento do tubo neural ou da formação das vértebras;
  • Espinha bífida oculta: falha no soldamento das metades das vértebras. Forma tubo neural e não forma vértebra (problema do esclerótomo): a medula espinhal fica exposta pela falta de vértebra. Tufo de pelos perto das nádegas é um indicativo;
  • Espinha bífida cística: falha no soldamento das metades das vértebras e presença de cisto com meninges e líquido cefalorraquidiano; meningocele;
  • Espinha bífida com mielosquise: tecido neural fica exposto. Não forma vértebra, forma tumor, o tecido neural fica exposto na superfície do corpo. Falha de fechamento do tubo neural, uma perturbação do fechamento na transição da cabeça para o tórax: forma-se tumor (encefalocele);
  • Iniencefalia: todo trecho neural afetado; alterações no coração;

  • Teratomas sacrococcígeos: originados pela não regressão da linha primitiva.

Malformações da face: lábio leporino e palato fendido são as mais comuns;


Malformações no trato digestório: 
  • Onfalocele: tumor, persistência do intestino ou do intestino/fígado na porção inicial do cordão umbilical. O revestimento da bolsa é formado pelo epitélio do cordão umbilical;
  • Gastrosquise: extrusão das vesículas abdominais, sem o envolvimento do cordão umbilical;

  • Não perfuração da membrana cloacal no final da 8° semana: não há orifício do ânus e pode se relacionar a outras malformações da genitália e internas. A correção depende do comprometimento da formação do reto e outras partes do intestino.
Malformações do trato respiratório: hipoplasia pulmonar é quando não passa da fase do brotamento e não desenvolve o pulmão, caixa torácica pequena, não pode ser corrigido;


Malformações do aparelho excretor: 
  • Agenesia renal: defeito de falta do rim, não há como corrigir; 
  • Rim policístico: rim subdividido em função de vários cistos, influência do componente genético.

Monstruosidade (termo inapropriado): quando mais de um sistema é afetado gerando figuras fetais bizarras. 

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