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domingo, 25 de junho de 2023

Embriologia humana II: período fetal, membranas fetais, parto e gêmeos

 Olá pessoal, hoje eu trago a segunda parte em tópicos importantes de embriologia humana:

 Clinicamente, a gestação é dividida em 3 trimestres:

  • Primeiro: formação dos primórdios dos principais sistemas;
  • Segundo: crescimento em altura, facilidade de analisar características anatômicas/malformações;
  • Terceiro: aumento do peso.
 

PERÍODO FETAL

 Tem duração da 9. ª à 38. ª semana. Embora a transformação de embrião em feto seja um processo gradual, a mudança de nome é significativa, pois o embrião tornou-se um ser humano reconhecível e já se formaram todos os sistemas importantes. 

 Características do desenvolvimento fetal:
  • Rápido crescimento do corpo;
  • Diferenciação dos órgãos (organogênese) e tecidos (histogênese);
  • Diminuição relativa do crescimento da cabeça em relação ao restante do corpo, principalmente do início da 9. ª semana ao final da 12. ª;
  • Alto ganho de peso (últimas semanas);
  • Viabilidade fetal.

 Medidas e estimativas da idade fetal:
  • Até o fim do 1° trimestre: comprimento cabeça-nádegas (CRL - Crown-rump length);
  • 2° e 3° trimestres: comprimento cabeça-calcanhar (CHL - Crown-heel length); diâmetro bipaerietal (DBP) - diâmetro entre as duas saliências parietais; circunferência da cabeça; circunferência abdominal; comprimento do fêmur (FL - femur length), comprimento do pé.

 Viabilidade fetal: a principal causa de mortalidade infantil no mundo é o nascimento prematuro, também chamado pré-termo. Pode ser prematuro por data (nascido antes do tempo previsto) ou por peso (nascido a termo mas com baixo peso).
  • Fetos pré-viáveis: 9-20 semanas < 500 g (geralmente não sobrevivem);
  • Fetos viáveis: 22-38 semanas:
          - 500 g - 1000 g => recém-nascido imaturo - pode sobreviver
          - 1000 g - 2500 g => recém-nascido prematuro - a maioria sobrevive
  • Feto pré-termo: antes da 37. ª semana.
 Fatores que influenciam o crescimento fetal:
  • Tabagismo;
  • Álcool e drogas ilícitas;
  • Gravidez múltipla;
  • Fluxo sanguíneo materno e/ou placentário deficiente;
  • Fatores genéticos.
TERCEIRO MÊS (9. ª A 12. ª SEMANA)

  • Cabeça no início metade do comprimento do feto;
  • Face adquire aparência mais humana: os olhos movem-se ventralmente e as orelhas com implantação baixa assumem sua posição definitiva;
  • Pernas curtas e coxas pequenas;
  • Membros superiores, no fim de 12 semanas, quase atingem o crescimento definitivo;
  • Alças intestinais visíveis dentro da extremidade proximal do cordão umbilical até a metade da décima semana, mas por volta da 12. ª se retraem para a cavidade abdominal.
  • Centros de ossificação primária nos ossos longos e crânio;
  • Genitália externa indiferenciável até o final da nona semana - se desenvolve de modo que se pode determinar o sexo por exame externo;
  • Fígado é o principal local de eritropoese (na 12. ª semana decresce no fígado e começa no baço);
  • Urina começa a se formar, sendo excretada para o líquido amniótico.
QUARTO MÊS (13. ª A 16. ª SEMANA)
  • Esqueleto: os ossos são claramente visíveis;
  • O feto é capaz de ouvir os batimentos cardíacos maternos, sua voz e barulhos externos; além disso, é capaz de engolir, chutar e se virar no útero;
  • Feto aumenta de comprimento - crescimento muito rápido, membros inferiores se alongam e peso aumenta um pouco;
  • Genitália interna: ovários diferenciados (muitos folículos primordiais). Testículos com cordões testiculares sólidos;
  • Identificação da genitália externa por ultrassom.
QUINTO MÊS (17. ª A 20. ª SEMANA)
  • Movimentos fetais sentidos pela mãe;
  • Peso aumenta um pouco - ainda está abaixo de 500 g;
  • Pele recoberta pelo vérnix caseoso (mistura de secreção das glândulas sebáceas do feto mais células mortas da epiderme) e pelo lanugo (penugem fina);
  • Surgem cabelo e sobrancelhas;
  • Gordura marrom depositada neste período;
  • Aparelho genital: formação do útero, canalização da vagina. Com 20 semanas os testículos começam a crescer.
SEXTO MÊS (21. ª A 25. ª SEMANA)
  • Aumento substancial de peso no último trimestre, corpo mais proporcional;
  • Pele rósea e enrugada, devido à escassez de tecido conjuntivo subcutâneo;
  • Rins, pulmões e coração completam a formação;
  • Devido à maturação pulmonar, aumento das chances de sobrevivência: na 22. ª semana a chance era de 15%, na 25. ª semana essa chance já é de 90%.
 Fases da maturação pulmonar: os alvéolos continuam a se formar até os 2 anos de idade, ao nascimento são de 20 a 70 milhões, enquanto que um pulmão maduro apresenta de 300 a 400 milhões de alvéolos. 
  1. Pseudo-glandular;
  2. Canalicular;
  3. Sacular;
  4. Alveolar.

 A maturação pulmonar ocorre a partir da 24. ª semana devido à diferenciação dos pneumócitos do tipo II, que secretam surfactante pulmonar, cujas características básicas são:
  • Mistura de fosfolipídios e proteínas;
  • Diminui a tensão superficial dos alvéolos;
  • Facilita sua expansão;
  • Evita seu colabamento.
SÉTIMO MÊS (26. ª A 29. ª SEMANA)
  • Pulmões são capazes de respirar (é possível a sobrevivência em condições de cuidados intensivos);
  • Olhos reabrem;
  • Pele menos enrugada devido a formação de gordura subcutânea;
  • Hematopoese ocorre no baço até a 28. ª semana e a partir de então a medula óssea torna-se o principal local desse processo;
  • Capacidade auditiva completa.
Expectativas de desenvolvimento durante a vida fetal

NONO MÊS (35. ª A 38. ª SEMANA)
  • Reflexos: orientação espontânea à luz e preensão palmar;
  • Sistema nervoso maduro para efetuar algumas funções integrativas;
  • Diminuição do ritmo de crescimento próximo ao nascimento;
  • Peso: aproximadamente 3400 g;
  • Comprimento 36 cm CRL, 50 cm CHL.
MEMBRANAS FETAIS

 O córion, o âmnio, o saco vitelínico e o alantoide constituem os anexos embrionários ou membranas fetais. São originados do zigoto, mas não fazem parte do embrião ou feto (exceto parte do alantoide). Suas funções são proteção contra a dessecação e choques mecânicos bem como executar um papel nas trocas gasosas e de nutrientes.

 A placenta é um órgão materno-fetal que juntamente com o cordão umbilical funciona como um sistema de transporte de substâncias entre a mãe e o feto. É o único órgão formado por componentes de dois indivíduos. É constituída por:
  • Porção fetal: originada do córion ou saco coriônico (córion viloso, placa coriônica);
  • Porção materna: endométrio transformado (decídua basal).
 O córion (sinciciotrofoblasto + citotrofoblasto + mesoderma extraembrionário) é o componente fetal da placenta em contato com a decídua basal e possui grandes projeções chamadas de vilosidades coriônicas. Essa região também é conhecida como córion viloso ou córion frondoso.

 Desenvolvimento da porção fetal da placenta

 1. Surgimento das vilosidades coriônicas (12°-14° dia): em regiões espaçadas do citotrofoblasto ocorrem sítios de proliferação celular originando projeções em direção ao sinciotrofoblasto, essas regiões são chamadas de vilosidades coriônicas primárias.



 2. Formação das vilosidades coriônicas secundárias (14°-16° dia): o mesoderma penetra nas projeções do citotrofoblasto; as vilosidades coriônicas com mesoderma no interior são designadas secundárias. Há vasos sanguíneos no saco vitelínico e no pedículo do embrião


 3. Surge vasos no interior das vilosidades coriônicas - designadas terciárias (16°-21° dia). As células do citotrofoblasto proliferam e se estendem pelo sinciotrofoblasto, formando a capa citotrofoblástica que prende o embrião ao endométrio. As vilosidades que se prendem aos tecidos maternos através da capa citotrofoblástica são vilosidades tronco.


 Junção materno-fetal: a porção da placenta (córion viloso) está presa à porção materna (decídua basal e seios intervilosos) pela capa citotrofoblástica por meio das vilosidades de ancoragem. 

 As vilosidades coriônicas cobrem toda a superfície do córion ou saco coriônico até o início da 8. ª semana. Com o crescimento do saco coriônico, as vilosidades degeneram rapidamente na região voltada para a luz uterina originando uma área nua avascular denominada córion liso. Na parte restante em contato com a decídua basal, as vilosidades coriônicas aumentam e se ramificam intensamente originando o córion frondoso ou viloso

 A placenta totalmente desenvolvida cobre cerca de 30% da decídua basal e pesa aproximadamente um sexto do feto.


 Decídua: deciduus - desprender; é o termo usado para designar a camada funcional do endométrio de uma mulher grávida - é a parte do endométrio que se separar no momento do parto. Logo no início da implantação, em resposta aos níveis crescentes de progesterona, as células do estroma ovariano aumentam de tamanho, tornam-se poliédricas e passam a acumular glicogênio e lipídio. Este processo é chamado decidualização.

 As regiões da decídua são denominadas de acordo com a relação com o local de implantação:
  • Decídua basal: porção que irá formar o componente materno da placenta;
  • Decídua parietal: regiões restantes do endométrio;
  • Decídua capsular: porção superficial que cobre o embrião;
  • Decídua vera: é aquela vista ao ultrassom, que compõe um somatório das decíduas parietais e decídua capsular.

 A membrana amniocoriônica é a fusão do âmnio com o córion liso. A forma da placenta é ditada pela área circular das vilosidades coriônicas que persistem. A membrana amniocoriônica se funde com a decídua capsular e depois do seu desaparecimento ela adere a decídua parietal obliterando a cavidade uterina.


A estrutura placentária







Âmnio

 Forma a cavidade amniótica ou saco amniótico, membranoso e cheio de fluido que envolve o embrião/feto. Forma-se pela cavitação da massa celular interna ou embrioblasto, é um derivado ectodérmico.

 Origem do líquido amniótico: 
  • Até a 20. ª semana: um pouco é secretado por células amnióticas, a maior parte é formada por um transudado do plasma materno através da membrana amniocoriônica na região da decídua parietal;
  • Segunda metade da gestação: contribuem para sua formação a urina fetal, a secreção do trato respiratório fetal e a filtragem dos vasos sanguíneos maternos na região da placa coriônica. 
  • No terceiro trimestre: o conteúdo de agua é renovado totalmente a cada 3 horas;
  • Ao final da gestação: o feto engole cerca de 20 ml de fluido por hora e urina 500 ml por dia; volume normal varia de 500 ml a 1000 ml => acima disso: poliidrâmnio - associado a gravidez múltipla e anencefalia; abaixo disso: oligoidrâmnio - associado a ausência dos rins ou insuficiência placentária.
 Funções do líquido amniótico:
  • Evita a desidratação; 
  • Participa da manutenção da homeostasia de fluidos e eletrólitos do embrião/feto; 
  • Age como uma barreira contra infecções;
  • Permite o crescimento simétrico do embrião;
  • Amortecedor de traumas mecânicos, pois difunde os impactos recebidos pela mãe;
  • Permite a movimentação normal do feto, auxiliando dessa maneira no desenvolvimento dos membros;
  • Protege o embrião/feto de adesões com o âmnio;
  • Permite o desenvolvimento normal dos pulmões fetais;
  • Ajuda a controlar a temperatura corporal do embrião/feto.
ESTÁGIOS DO PARTO
  1. Dilatação: dilatação progressiva do cérvix; contrações a cada 10 min; duração de 12 h em primigestas e 7 h em multíparas;
  2. Expulsão: saída do bebê; duração de 50 min em primigestas e 20 min em multíparas;
  3. Estágio da placenta: expulsão da placenta e membranas; duração de 15 min;
  4. Estágio de recuperação: contração do miométrio e constrição das artérias espiraladas; duração de 2 h.


 No parto, após o nascimento, as membranas fetais mais a placenta são expelidas pelo útero e são
denominadas secundinas. O exame a fresco da placenta e membranas fetais podem constituir um
excelente meio para colher informações valiosas sobre as condições do recém-nascido.

GÊMEOS

Dizigóticos/fraternos/bivitelinos: 
  • Se originam de dois zigotos, ou seja, resultam da fertilização de dois ovócitos por dois espermatozoides diferentes;
  • Podem ser do mesmo sexo ou de sexos diferentes;
  • Sempre tem 2 âmnios e 2 córions, mas os córions e as placentas podem estar fundidos;
  • Tendência hereditários (1/500 em asiáticos, 1/125 emcaucasianos, 1/20 em populações africanas). Blastocistos se implantam separadamente: placentas separadas; 
  • Blastocistos se implantam próximos: placentas fundidas.
Monozigóticos/idênticos/univitelinos: 
  • Se originam do mesmo zigoto;
  • Mesmo sexo e geneticamente idênticos;
  • Geralmente resulta da divisão da massa celular interna em 2 primórdios embrionários. Assim, cada um em seu saco amniótico, dentro do mesmo saco coriônico e com uma placenta única. 
  • A separação dos blastômeros é rara e resulta na formação de gêmeos com 2 âmnios, 2 córions e 2 placentas que podem ou não estar fundidas.



  • Diamnióticos, monocoriônicos, placenta única: 65%. Compartilhamento integral (membrana e vilosidades) ou só das vilosidades;
  • Diamnióticos, dicoriônicos, placenta única ou fundida: 35%. Forma 2 mórulas e 2 blastocistos;
  • Monoamnióticos, monocoriônicos, placenta única: muito raro. Embriões se fusionam em algum momento, estão dentro da mesma cavidade amniótica, cada um tem seu disco, mas estão dentro do mesmo âmnio. Separados, conjugados (xipófagos, siameses) ou parasitas (fetus in fetu).

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