segunda-feira, 3 de setembro de 2018

03/09: Dia do Biólogo | Ciência em chamas

Olá pessoal, venho aqui fazer uma espécie de coluna sobre o incêndio do Museu Nacional lá do Rio de Janeiro. Vale lembrar que não é a primeira vez que museus como esse e prédios científicos entram em chamas, é só se lembrarem do Museu da Língua Portuguesa e do Instituto Butantan. Sem falar no clássico Museu do Ipiranga que embora não tenha pegado fogo, corria risco de desabar e está numa reforma há anos!

''Que país é esse?'' - Renato Russo

 Sabem que país é esse? É a porra do Brasil... Venho aqui fazer um desabafo, e não uma ficha técnica sobre o ocorrido. Um incêndio como esse é a materialização do descaso com a ciência. A imagem acima me arrepia pelo simples fato de vermos a estátua de Dom Pedro II em primeiro plano ao fundo um lugar, que foi inclusive casa da Família Real, em chamas. Não é apenas um museu, mas é um local que abrigava artefatos e outras coisas de valor incalculável pra ciência.

 A maioria das pessoas não enxerga que o que foi perdido e o que aconteceu é extremamente grave. O brasileiro, em sua grande maioria, não entende e não gosta de ciência. Esse incêndio é comparável a um incêndio do Louvre, do Museu de Nova York ou do Museu Britânico. Gerações de cientistas dedicaram suas vidas a esse museu, muitos futuros doutorandos, mestrandos e professores agora tiveram anos de sua vida jogados fora. Tudo que se usa para manter um só Juiz do Supremo seria suficiente pra fazer uma simples manutenção nesse prédio.

 A questão aqui é que eu não consigo acreditar no que aconteceu... É como se alguém tivesse morrido. Só quem entende a real importância da ciência sente isso. Esse prédio possui uma arquitetura única, foi fundado por Dom João VI e foi casa da Família Real por anos, só esse fato já torna o prédio um lugar único. Como se não bastasse lá é uma das instituições mais antigas de ciência no Brasil, um lugar que até a Marie Curie e o Einstein visitaram, um local onde o fóssil humano de cerca de 11/12 mil anos, a Luzia, era o mais antigo da América. Esse fóssil da Luzia foi fundamental pra entender a dispersão do homem pelo mundo, qualquer tratado fundamental de antropologia e evolução do homem falava desse fóssil, ele era importante como a Lucy é, mas depois de resistir 12 mil anos debaixo da terra não sobreviveu a poucos anos da incompetência de um governo. Os diversos itens de arqueologia clássica e egiptologia se perderam, o sarcófago de uma cantora egípcia era um dos principais, esses itens egípcios foram dados de presente ao Brasil na época em que Dom Pedro II visitou o Egito. Milhares de coleções biológicas, com espécies ainda para serem descritas, com holótipos que agora não existem mais, com espécies extintas que tinham exemplares apenas lá, tudo isso se foi. Sem falar nos inúmeros livros da biblioteca. O meteorito Bendegó foi um dos poucos itens que se salvaram, ele é um símbolo de resistência. O acervo paleontológico com as ossadas de dinossauros brasileiros e outros seres pré-históricos brazucas agora viraram cinzas...

 Hoje (03/09) é dia do biólogo, e parece que não há nada mais irônico, sarcástico e cruel para ser dado de presente a esses cientistas. Cientistas que dedicaram anos de pesquisas e viveram a vida inteira dentro desse museu perderam o chão que os sustentavam. Mesmo sabendo que estariam sem emprego, saíram de suas casas no domingo a noite, correndo risco de vida dentro das instalações, para resgatar uma pequena parte do acervo de 20 milhões de peças, utilizaram apenas a força do amor pelo o que fazem para salvar alguns vidros com exemplares de moluscos preservados, que para tanta gente parece apenas um bicho mole em um pote mas que para a ciência é ter um catálogo da vida na Terra que nos ajuda a ligar relacionar cada ser vivo na teia da vida. É como se você não tivesse mais noção do que estava acontecendo, você, um cientista desnorteado para qual não caiu na ficha que tudo acabou, por amor e dedicação a ciência, adentra o prédio pra tentar salvar qualquer coisa, você pega vários vidros de moluscos preservados e sai correndo sem nem ao menos perceber o que está acontecendo a sua volta. Extremamente tenso...

 Mesmo se consigam salvar o prédio, de arquitetura imponente e importante para a história do Brasil e da arte, o que estava lá dentro nunca poderá ser substituído. É como se um ente querido seu morresse, mesmo que botem alguém muito especial pra você no lugar daquela pessoa falecida, essa pessoa nunca irá substituir a que se foi. E o mesmo vale pra ciência, uma vez perdido, pra sempre perdido...

 Concluo esse texto com o coração apertado e extremamente abalado. Deixo aqui algumas imagens que falam por si só. Que um dia valorizemos a ciência!



 Um povo que não preserva a sua história é um povo que não sabe construir seu futuro. Devemos preservar nossa história e ciência para poder mostrar as mesmas as futuras gerações. Pra finalizar, deixo essa foto marcante e que nos faz lembrar que nossos cientistas sofrem... No Museu Nacional eles davam tudo de corpo e alma, mas como disse o administrador do museu: Não é questão se o incêndio ia acontecer, mas questão de quando iria ocorrer. O mais triste é que quem deu as suas vidas para aquele lugar teve que vê-lo sendo consumido pelas chamas sem poder fazer nada.


Que um dia reconheçam o valor da ciência e da história na construção de uma nação forte!

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