Olá pessoal, hoje eu estou aqui não só para fazer um resumão sobre os fungos, mas também para quebrar as heranças de quando os fungos eram classificados como plantas. Aliás, quantas vezes você não viu cursos onde os fungos são abordados dentro da botânica?
Reino Fungi
Características gerais dos fungos
O Reino Fungi abriga os fungos, que são organismos eucariontes, uni ou pluricelulares e heterótrofos. São exemplos de fungos unicelulares as leveduras e exemplos de fungos pluricelulares os bolores e os cogumelos. A área da biologia responsável pelo estudo dos fungos é a micologia (termo que vem do grego mykes, que quer dizer ''fungo'' ou "cogumelo", e logos, ''estudo'').
Vale destacar que os fungos possuem parede celular de quitina externa à membrana plasmática, o que lhes confere elevada rigidez e maior resistência ao meio - também possuem vacúolos. Enquanto o carboidrato de reserva energética é o glicogênio, do mesmo modo que acontece com os animais.
Ecologicamente falando, é sabido que os fungos desempenham papel fundamental para a manutenção de todos os ecossistemas terrestres, já que são peça-chave na decomposição e na reciclagem de nutrientes no ambiente.
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No sentido horário, desde em cima à esquerda: Amanita muscaria, um basidiomicete; Sarcoscypha coccinea, um ascomicete; pão coberto de bolor; um quitrídio; um conidióforo de Aspergillus.
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O corpo dos fungos pluricelulares é formado primitivamente por filamentos delgados chamados hifas, que, em conjunto, formam um micélio, que não é um tecido. Em várias espécies de fungos, as hifas organizam-se em micélios reprodutores, estruturas chamadas corpos de frutificação, formadas por hifas estéreis que protegem as hifas formadas de esporos. Os esporos são células com envoltório resistente que, ao germinarem, dão origem a novos indivíduos. Já o micélio vegetativo seria aquele formado por hifas que vivem imersas no substrato e dele retiram o alimento.
Algumas espécies de fungos pluricelulares possuem hifas septadas já outras possuem hifas cenocíticas - nos fungos, os núcleos são haploides.
Nas hifas cenocíticas, presentes em fungos simples, o fio é contínuo e o citoplasma contém numerosos núcleos nele inserido.
Fungos mais complexos, possuem hifas septadas, isto é, há paredes divisórias (septos) que separam o filamento internamente em segmentos mais ou menos parecidos. Em cada septo há poros que permitem o livre trânsito de material citoplasmático de um compartimento a outro.
Eis por completo o corpo de um fungo em cultura. Sendo que o corpo de frutificação (vulgar cogumelo) é apenas o órgão sexual dele, necessário para liberar os esporos:
Veja também essas outras culturas de fungos:
Modo de vida dos fungos
Como se alimentam: os fungos liberam enzimas digestivas para fora de seus corpos. Essas enzimas atuam imediatamente no meio orgânico no qual eles se instalam, degradando-o à moléculas simples, que são absorvidas pelo fungo como uma solução aquosa.
O que irá determinar o modo de vida de um fungo é de onde e de que forma ele obtém seu alimento. Note o papel ecológico fundamental dos fungos.
- Saprófagos: alimentam-se decompondo organismos mortos ou restos de seres vivos, realizando o papel de decompositores nas cadeias alimentares.
- Parasitas: obtêm seu alimento de organismos vivos nos quais se instalam, prejudicando-os. Alguns fungos parasitam seres humanos, as micoses são as infecções causadas por fungos.
- Predadores: capturam, com suas hifas, pequenos animais para sua alimentação.
- Mutualísticos: fungos que interagem mutualisticamente com outros organismos, assim ambos são beneficiados através de uma relação obrigatória. Exemplos: micorrizas (associação de fungos às raízes de plantas) e líquens (associação entre fungos ascomicetos ou basidiomicetos e algas verdes ou entre fungos ascomicetos ou basidiomicetos e cianobactérias).
Líquens
O corpo do líquen, que recebe o nome de talo, pode ser classificado em três tipos básicos: crostoso, folhoso e fruticoso.
O fungo se reproduz individualmente, produzindo esporos assexuais ou sexuais. O indivíduo autótrofo, por sua vez, reproduz-se apenas assexuadamente, por meio de pequenos fragmentos que se desprendem do talo. O líquen inteiro também pode se reproduzir assexuadamente por meio de estruturas chamadas sorédios, constituídas por células de algas e hifas do fungo trans-portadas pelo vento.
Na nutrição dos líquens, o organismo fotossintetizante fornece a matéria orgânica para si mesmo e para o fungo. Os fungos que formam líquens associados às cianobactérias, organismos fixadores de nitrogênio, têm como vantagem uma fonte adicional desse elemento químico, que faz parte da constituição dos ácidos nucleicos e das proteínas. O fungo, heterótrofo, confere à alga proteção, sais minerais e umidade.Geralmente, em locais com condições ambientais desfavoráveis à existência de vida, os líquens fazem parte dos primeiros seres vivos a aparecer, sendo por isso considerados organismos pioneiros.
Micorrizas
Micorrizas são associações entre fungos e raízes de plantas. A planta fornece ao fungo compostos orgânicos fotossintetizados, enquanto o fungo, por meio da decomposição da matéria orgânica do solo, fornece à planta nutrientes minerais, como sais de nitrogênio e de fósforo.
Evolução e classificação atual dos fungos
Um assunto bem polêmico, trata-se de uma grande bagunça, principalmente quando nos recordamos que os fungos foram por muito tempo considerados plantas.
Hoje em dia adota-se simplificadamente a seguinte classificação:
- Chytridiomycota.
- Zygimycota.
- Ascomycota.
- Basidiomycota.
Os fungos provavelmente evoluíram dos mesmos ancestrais que originaram os animais: seres unicelulares eucariontes heterótrofos coloniais que viviam em ambiente aquático e que apresentavam flagelos em pelo menos uma fase do ciclo de vida.
- Vivem em solos úmidos, em água doce e no mar; alguns são parasitas de plantas e animais.
- Apresentam esporos flagelados chamados zoósporos.
- A maioria apresenta hifas cenocíticas, mas há espécies que perderam essa característica, retornando a uma condição de unicelularidade.
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Microscopia de Rhizopus stolonifer. |
- Compreendem algumas espécies unicelulares, mas a maioria é composta por fungos filamentosos.
- Parede celular composta por quitina.
- Em geral, são saprófagos que vivem livremente no solo, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição. Menos comuns são as formas de vida parasitas, que se instalam em alguns invertebrados, dos quais absorvem os nutrientes necessários. Além disso, os zigomicetos podem constituir micorrizas.
- Exemplo importante: Rhizopus stolonifer, responsável pelo bolor preto do pão (veja imagem ao lado), cresce em substratos com teores elevados de umidade, ricos em açúcares, como pães, frutas, etc.
- Reprodução:
- Podem apresentar corpo de frutificação, nesse grupo é chamado de ascocarpo/ascoma.
- Existem formas unicelulares, chamadas de leveduras, e formas filamentosas, como os mofos e bolores.
- Além dos saprófagos e dos parasitas, alguns ascomicetos podem ser mutualísticos, formando micorrizas e a maioria das variedades de líquens.
- Exemplo importante: Saccharomyces cerevisiae, uma espécie de levedura, obtém energia por meio da fermentação alcoólica, processo químico que produz álcool e gás carbônico. Devido a tal característica, essa levedura é largamente utilizada como fermento biológico no preparo de pães e cerveja. Além disso, esse fungo possui a capacidade de sintetizar certos antibióticos e tem grande potencial para o controle de doenças vegetais.
- Reprodução:
- Podem apresentar corpo de frutificação, nesse grupo é chamado de basidiocarpo/basidioma.
- A esse grupo pertencem as orelhas-de-pau e os cogumelos. Seus representantes são predominantemente miceliais (ou filamentosos), embora existam formas unicelulares. A estrutura do micélio é bem desenvolvida.
- Os basidiomicetos são cosmopolitas e vivem principalmente em ambiente terrestre. Em relação ao modo de vida, a maioria dos fungos desse filo é saprófaga. Existem, porém, muitos representantes parasitas de animais, plantas, algas e outros fungos. Há ainda alguns basidiomicetos parasitas.
- Exemplos importantes: o cogumelo comestível Agaricus campestris (champignon) e o cogumelo Amanita muscaria, tóxico, porém possui propriedades psicoativas e alucinógenas - além disso, é um cogumelo muito semelhante aos presentes no jogo eletrônico Super Mario Bros.
- Reprodução:
Antiga classificação dos fungos
Antigamente, todos os fungos sem corpo de frutificação eram chamados ficomicetos e o polêmico grupo dos deuteromicetos era válido. Também havia o grupo dos ascomicetos e o grupo dos basidiomicetos.
Os deuteromicetos eram chamados ''fungos imperfeitos'' ou ''fungos conidiais'', já que só apresentam a fase sexuada no ciclo de vida, esses fungos se reproduzem apenas por esporos não flagelados, formados por mitose. Fazem parte desse grupo algumas espécies unicelulares, mas principalmente espécies filamentosas. Todas as espécies possuem parede celular composta de quitina, característica comum nos fungos. Além de espécies parasitas, esse grupo também apresenta espécies saprófagas, predadoras e mutualistas.
Atualmente, sabe-se que, para muitas dessas espécies, a fase sexuada foi perdida na evolução. Há dados moleculares de muitos deuteromicetos que têm permitido classificá-los como zigomicetos, basidiomicetos ou, com mais frequência, ascomicetos. Podemos citar como exemplos espécies dos gêneros Penicillium e Aspergillus, que eram consideradas deuteromicetos e que atualmente têm sido classificadas como ascomicetos.
Assim, essa era basicamente a classificação:
- Ficomicetos (não apresentam corpo de frutificação).
- Ascomicetos.
- Basidiomicetos.
- Deuteromicetos.
Padrão geral de reprodução dos fungos
Durante o ciclo de vida, os fungos apresentam fases reprodutivas diferentes, uma assexuada e outra sexuada. Os mecanismos reprodutivos variam de acordo com a fase do ciclo.
Quando os fungos eram plantas
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Pier Antonio Micheli (1679-1737), um dos pais da micologia moderna. Foi o primeiro a salientar que os fungos tinham corpos reprodutores ou esporos - o início da era moderna da micologia começa com a publicação de sua obra Nova plantarum genera em 1737. |
A comparação de sequências de RNA ribossômico, mostra que os fungos são mais relacionados aos animais do que às plantas. Entretanto, historicamente falando, os fungos sempre foram vistos como próximos das plantas, inclusive a micologia foi e ainda é muitas vezes vista como um ramo da botânica (estudo das plantas).
Os fungos já foram classificados como plantas até 1980 (!), quando a proposta de Royall Tyler Moore para a criação de um reino próprio (Fungi) foi aprovada - em 1753, quando Linnaeus estava desenvolvendo a taxonomia moderna, os fungos foram incluídos no reino dos vegetais. Os livros apresentavam os conteúdos sobre micologia dentro de botânica. Nos dias atuais, a nomenclatura dos fungos é igual à das plantas, herança de uma época em que o Reino Fungi, como táxon, não existia.
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Adendo: outros autores já haviam proposto que os fungos constituíssem um reino (Reino Fungi) muito antes de Royall Tyler Moore, que é considerado o micólogo que oficialmente fundou o Reino Fungi em 1980. A primeira proposta vem dos protistologistas estadunidenses Theodore Jahn e Frances Jahn em 1949. A ideia foi mais aprofundada por outros cientistas, e, principalmente, pelo biólogo estadunidense
Robert Whittaker, em 1959 e 1969 (e outros anos). Nenhuma delas, no entanto, foi aprovada pelo “Código Internacional de Nomenclatura Botânica” da época, pois não apresentavam a diagnose do reino em latim. Apenas Moore atendeu a esse quesito em 1980, fazendo, enfim, o reino Fungi ser reconhecido oficialmente. Se alguém se interessar, a referência é: Hibbett & al., 2007 <
http://bit.ly/2NMifsK>.
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Atualmente, as classificações mais difundidas são as de Whittaker e Woese. Sendo os domínios (super-reinos) táxons superiores aos reinos. |
O que é chamado comumente de cogumelo recebia o nome de corpo de frutificação. Ao pé da letra, trata-se de um erro conceitual, pois os fungos não produzem frutos como as plantas. Corpo de frutificação passou a ser chamado de esporocarpo.
Como os fungos basidiomicetos e os ascomicetos são os que têm essa estrutura de reprodução mais complexa, seus esporocarpos receberam denominações mais específicas: basidiocarpo e ascocarpo. O vínculo com os vegetais ainda continuava, pois o radical ‘-carpo’ vem do grego ‘karpós’, que significa fruto.
Por isso, hoje, apesar de menos conhecidos, termos mais adequados são propostos. Esporocarpo agora é esporoma e basidiocarpo e ascocarpo são basidioma e ascoma. Pode-se dizer esporóforo, basidióforo e ascóforo também.
Proximidades dos fungos com os animais e as plantas
- Com os animais: os fungos carecem de cloroplastos e são organismos heterotróficos. Além disso, utilizam o glicogênio como carboidrato de reserva energética, bem como fazem os animais.
- Com as plantas: os fungos possuem uma parede celular e vacúolos (as células animais também podem possuir vacúolos, só que eles são raros). Reproduzem-se por meios sexuados e assexuados, e tal como os grupos basais de plantas produzem esporos. Tal como os musgos e algas, os fungos têm núcleos tipicamente haploides.
Fontes Araribá Plus Ciências; Só Biologia; Página ''Nomes Científicos''; Wikipedia; InfoEscola; Bio: volume único por Sônia Lopes e Sergio Rosso.
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