quinta-feira, 26 de março de 2020

Exobiologia

Olá pessoal, hoje irei falar sobre uma das áreas mais promissoras da biologia. Se no século XX nós estávamos entendendo as bases da biologia molecular e reformulando as outras áreas com base nos novos conhecimentos, atualmente, além da continuação desse processo, temos explorado conhecimentos que se apoiam no ápice da nossa tecnologia, isso inclui áreas como a biotecnologia, a genética e também a exobiologia.


''Exobiologia é a ciência que se incumbe de estudar a possibilidade de vida em espaços extraterrestres, levando em consideração desde a origem dessas formas de vida até as condições ambientais para sua existência.''
  Destaco que a NASA, agência espacial americana e principal responsável pelas pesquisas espaciais no mundo, está por trás das pesquisas mais promissoras na área. (Alguns inclusive adoram criar teorias da conspiração de que a NASA já encontrou vida extraterrestre e está escondendo-a).

 É incerto se a dimensão do espaço é finita ou infinita, mas temos uma certeza: ela é extremamente grande. O que nos leva a pensar que é muito improvável que não haja outro lugar com vida, porém, como eu sempre gosto de lembrar quando falamos em exobiologia, procurar por vida extraterrestre implica em revermos alguns dos conceitos mais fundamentais em biologia e em bioquímica, como o clássico ''o que é vida?'' e ''o que todos os seres vivos tem em comum bioquimicamente?''. E claro, nesse ponto a filosofia se junta ao debate, e não devemos desmerecê-la, ela é fundamental para a ciência (lembre-se, o método científico é totalmente baseado em princípios filosóficos).

 A exobiologia busca pela vida extraterrestre, o que é extremamente complexo, consequentemente ela acaba sendo uma área extremamente interdisciplinar, e envolve, por exemplo, física, química orgânica e inorgânica, bioquímica, biologia celular, climatologia, geoquímica, ciência planetária e modelagem por computador. Além disso, a exobiologia trabalha com a busca por planetas (ou satélites naturais) potencialmente habitáveis e frequentemente caminha pela origem e evolução das formas de vida.

 Gosto de deixar claro que buscar por vida extraterrestre não quer dizer ser um ufólogo pseudocientista que busca por alienígenas, cabeçudos e de olhos grandes, que viajam num disco voador e possuem uma tecnologia superior à nossa. A exobiologia é uma ciência, isso quer dizer que se ela por acaso achar algo análogo a uma bactéria em algum planeta por aí, ela já teria achado vida extraterrestre. Portanto, enquanto ciência, a exobiologia trabalha com evidências e segue um rigoroso método: o método científico (observação; formulação de hipótese; experimentação; conclusão).

 Retomando o que eu havia dito sobre rever alguns conceitos fundamentais, em exobiologia, quando nós estamos procurando por vida, temos que saber com relativa precisão o que ela é para poder procurar algo que se encaixe nesses parâmetros. Geralmente definimos vida com base no que todos os seres vivos da Terra tem em comum, mas e se algo lá fora cobrisse esses critérios só que de uma forma diferente? E se eles tivessem uma unidade análoga à célula, uma espécie de ''homoplasia cósmica'', isso os faria ''menos vivos'' do que nós?

 Costuma-se definir como ser vivo: aquele organismo composto por células, que possua metabolismo próprio, possua capacidade de adaptação (evolução), possua capacidade de reprodução e mecanismos que garantam a hereditariedade, possua metabolismo próprio, entre outras características como resposta à estímulos. Além disso, uma velha teoria, a teoria celular criada por Robert Hooke em 1665, afirma que todo ser vivo é composto por células! A célula é a unidade estrutural e fundamental da vida.

 Calma, o buraco é mais embaixo: nas últimas décadas, muito se falou sobre bioquímicas alternativas, procuramos por vida semelhante à nossa, contudo, a ideia de ter seres constituídos por silício no lugar do carbono e que respiram nitrogênio no lugar do oxigênio ou então que usam como solvente a amônia no lugar da água deixou de parecer tão absurda. Esses seres provavelmente não serão como os seres terrestres, mas nada impede que essas substâncias cumpram o papel do oxigênio, do carbono e da água, e nada impede que estejam organizadas formando uma unidade fundamental que constitui seres vivos diferentes dos terrestres. Lembre-se dos vírus, muitos os consideram seres vivos, mesmo não sendo constituídos por células, definitivamente, a biologia é a pior ciência para colocarmos regras. A hierarquia de entidades é uma das coisas mais comuns que existe, vide a matéria que é constituídas por átomos que se unem para formar moléculas e assim por diante.

 E aliás, vou ser ousado, é muito plausível que existam formas ''unicelulares'' e/ou microscópicas de vida extraterrestre. Se elas existirem, e se existirem ''multicelulares'' extraterrestres, não é maluquice pensar que o ambiente em que eles vivam selecionem seres com características que remetem aos terrestres. Imagine seres ''pluricelulares'' alienígenas que vivam em líquidos, o que impede eles de terem esqueleto hidrostático? ou então barbatanas, caudas e formatos hidrodinâmicos análogos ao terrestre. Vamos mais além, um organismo predador, muito provavelmente vai possuir presas ou dentes, algo letal, isso se não possuir substâncias tóxicas; um pouco mais além: ''plantas'' aliens, fixas no substrato extraterrestre, se seguissem a lógica de retirar nutrientes do solo ou de precisar de algo para dispersar seus gametas, não seria loucura pensar na existência de vasos condutores e mecanismos de reprodução que tangenciem os terrestres.

 Infiro que fragmentação corpórea, regeneração, gametas, membros, olhos e pigmentos não sejam coisas absurdas de se verem nos ''animais e plantas'' aliens. Tudo isso pode ser inferido se pensarmos que os seres vivos, não importa do sejam feitos, precisam gerar descendentes e como consequência nós teremos mecanismos de hereditariedade e talvez algo que guarda a informação genética. E todo ser vivo interage com o meio, sistemas sensoriais não são loucura, o olho é uma estrutura que surgiu várias vezes ao longo do processo evolutivo terrestre, o que nos mostra que não deveria ser diferente em um planeta qualquer. E mesmo se pensarmos em formas de vida ''unicelulares'', poderia haver cílios, flagelos, já que elas precisariam se movimentar, e algo como o citosol seriam recorrentes se pensarmos que unidades fundamentais devam ter algo como o nosso gel coloide onde estão mergulhadas estruturas.

 Tudo isso que falei é uma grande especulação, porém, se pensarmos em um planeta rochoso com massas líquidas por aí e algo como uma atmosfera, não seria tão absurdo assim. Grandes transições, das formas de vida mais simples para as mais complexas, como a multicelularidade, e mecanismos para eliminar conflitos, manter a cooperação e fazer com que o organismo continue funcionando são o mínimo que esperamos para uma forma de vida alienígena. É simples de imaginar moléculas aliens que se unem para formar uma célula, e a união delas constitui o alien, definitivamente, diferentes níveis de organização é o esperado para se alcançar formas complexas. E claro, os aliens sofreriam a ação da seleção natural de Darwin, isso não é maluquice, até os vírus têm capacidade de adaptação.

 E os seres inteligentes? não é impossível que existam, entretanto, se existirem, serão em menor número do que aqueles seres que não são conscientes de sua existência. Alguns especulam que seres inteligentes são raríssimos no Universo, já que em algum momento se aniquilariam, bom, eu não discordo totalmente disso, vide o aquecimento global e a crise dos mísseis de Cuba em 1962. A questão é que existiriam diferentes níveis de civilizações inteligentes, um dos mais altos níveis seria a colonização espacial e o pleno uso da estrela que orbitam em si como fonte de energia, nós mal começamos a exploração espacial, temos muito pela frente.

 Se estamos longe de encontrar qualquer tipo de vida alienígena, imagine só vida inteligente, o SETI (sigla em inglês para Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre) é um projeto que tem por objetivo a constante busca por vida inteligente no espaço, até agora não encontraram nada concreto. Gosto de lembrar também da Equação de Drake, que é um argumento probabilístico usado para estimar o número de civilizações extraterrestres ativas em nossa galáxia Via Láctea com as quais poderíamos ter chances de estabelecer comunicação. Uma equação interessante, mas que não nos revela muita coisa, já que apresenta alguns problemas, como o fato de que não leva em conta que as civilizações possam sair da sua galáxia mãe para colonizar outras galáxias (provavelmente o mais alto nível que uma civilização poderia atingir).

 Pensar em vida alienígena não é um absurdo se considerarmos que surgimos ao acaso (lembre-se que estou desconsiderando explicações de fundo metafísico, mitológico e religioso) e que as primeiras formas na Terra surgiram de uma abiogênese.

 Segundo a clássica teoria da evolução química, de Oparin e Haldane, as primeiras células teriam surgido da matéria orgânica dos oceanos, que se formou a partir de moléculas da atmosfera primitiva (CH4,NH3,H2,H2O), as condições da Terra teriam favorecido a formação de aminoácidos (elevadas temperaturas, tempestades com descargas elétricas e radiação UV), que posteriormente se agruparam em proteínas, que mais tarde se agruparam formando as primeiras protocélulas, os coacervados, conforme a ação da seleção natural chegamos na diversidade de formas de vida existente. Recorde da hipótese heterotrófica: primeiras células/organismos eram procariontes, anaeróbios e heterótrofos pois havia alimento suficiente; e da hipótese autotrófica: primeiros seres procariontes anaeróbios e autótrofos quimiossintetizantes, semelhantes às arqueas atuais (estromatólitos), mas teriam surgido células com metabolismo mais complexo primeiro?

 Desconsiderar esses eventos e afirmar que a vida vem do espaço ou então que meteoritos trouxeram substâncias essenciais pros processos que deram origem à vida (essa última informação tem sido vista com bons olhos por alguns cientistas), não resolve o problema, torna tudo ainda mais obscuro! Imagine só micro-organismos que vieram num meteorito, eles tiveram que sobreviver ao frio do espaço, à radiação cósmica e à entrada na atmosfera. E aliás, se a vida veio do espaço, ela veio de algum outro lugar dele, então, como a vida teria surgido nesse lugar? Bom, vemos que o problema aumentou de tamanho se considerarmos a panspermia cósmica como válida. O princípio da Navalha de Occam, que grosso modo diz que coisas mais simples tem mais chance de acontecer, já invalida a panspermia.

 Buscar por exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar) em zona habitável, lugares que pareciam ficção há algumas décadas, tem se tornado tarefa comum e que rendeu muitos bons resultados, já que há muitos sinais de planetas com água líquida por aí. Uma zona habitável é uma região do espaço ao redor de uma estrela onde o nível de radiação emitida pela mesma permitiria a existência de água líquida na superfície de um planeta/satélite natural que ali se encontre, sem que os oceanos fervam por causa da estrela estar perto demais, e sem que os oceanos congelem pela estrela estar longe demais. Vale destacar que a busca por essas zonas habitáveis configura uma busca por vida como a que evoluiu na Terra, o que poderia estar excluindo algumas formas de vida bem diferentes da nossa.

 Contrariando as baixas possibilidades de habitabilidade, alguns exoplanetas podem ter os seus próprios satélites (exoluas) com água no estado líquido. Partindo deste pressuposto, os cientistas defendem que as exoluas devem ser tidas em conta quando se procura por vida extraterrestre. Estas luas podem ser aquecidas no seu interior pela atração gravitacional do planeta que orbitam. Por isso, podem conter água líquida mesmo estando fora da zona habitável, onde encontramos planetas semelhantes à Terra.


 Ultimamente, muito se tem falado sobre Titã tal como a lua Europa e o planeta Marte, que estão no topo da lista dos corpos celestes onde se poderia encontrar formas de vida primitivas graças a algumas características muito específicas (irei entrar em detalhes sobre isso em outro post). Daqui a 5 bilhões de anos quando o Sol ampliar 50 vezes o seu tamanho (e destruir a Terra!), Titã vai receber a mesma quantidade de energia solar que a Terra recebe hoje. Hipoteticamente e por um curto período de tempo, o satélite poderia tornar-se num mundo oceânico onde a vida prospera. A possibilidade de atualmente haver vida primitiva em outros locais do Sistema Solar é animador (e assustador), pois isso traz à tona a possibilidade de enviar pessoas ou aparelhagens até o local. Um perigo de se explorar locais onde pode haver vida primitiva, é levar, sem querer, micro-organismos terrestres para esses locais, e se por acaso sobrevivessem e entrassem em competição com os micro-organismos alienígenas, poderia haver o risco de extinção das formas de vida extraterrestre, por isso futuras missões até Titã ou Europa buscarão evitar esse tipo de deslize.

 De fato, ainda não existe nenhuma prova concreta de que existe vida em outros planetas, embora os indícios sejam bastante consideráveis. Não culpo os cientistas por buscarem formas de vida como as que existem na Terra, afinal não podemos buscar algo que não temos descrição precisa, já que a vida na Terra surgiu dessa forma: seres da bioquímica CHONPS que usam a água como solvente universal, e que vivem em um planeta que está em uma zona habitável de uma estrela, é provável que essa receita possa ter dado certo em outros lugares. A questão é: estamos ou não estamos sozinhos no Universo? ambas as respostas são igualmente assustadoras...

 Fonte Wikipedia; artigo ''Darwin's aliens'' (https://www.cambridge.org/core/journals/international-journal-of-astrobiology/article/darwins-aliens/89B3E0F2165EB8D63A7C5EAA7D9702D3); InfoEscola; Portal São Francisco; SputnikNews.

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